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Obras de Vestibular: Literatura

Auto da Compadecida, Ariano Suassuna

• O autor gostaria de deixar claro que seu teatro é mais aproximado dos espetáculos de circo e da tradição popular do que do teatro moderno.

• A divisão em 3 atos é sugerida para a peça, que tem como pano de fundo o sertão nordestino. Os personagens possuem um mesmo registro de fala, compatível com o encontrado no ambiente nordestino brasileiro, embora cada personagem tenha o seu discurso único e particular.

• Para além da linguagem nordestina, convém lembrar uma série de elementos nos quais o autor investe para causar um efeito de verossimilhança: à narrativa faz, por exemplo, uso de objetos típicos nordestinos, figurados habitualmente usados por moradores da região e até mesmo replica cenários do sertão que ajudam o espectador a imergir na história.

• Ao longo da história, Chico e José Grilo sofrem em meio a um cotidiano duro, marcado pela seca, pela fome e pela exploração do povo.

• Diante desse contexto de penúria, o que resta para os personagem é usarem o único recurso que têm em mãos: a inteligência.

• No texto de Suassuna, vemos como todos os personagens são corrompidos pelo dinheiro, até mesmo aqueles que supostamente não deveriam estar ligados à matéria.

• Os personagens humildes são vítimas da opressão provocada pelos coronéis, pelas autoridades religiosas, pelos donos de terras e pelos cangaceiros. Convém sublinhar que a peça é contada do ponto de vista dos mais humildes, e é com eles que o espectador cria imediata identificação.


Para ler Auto da Compadecida:



Carta do Achamento do Brasil - Vaz de Caminha

• É riquíssima em detalhes e já chegou a ser designada como o documento da fundação nacional brasileira.

• As descrições narrativas da terra que hoje chamamos de Brasil e do encontro entre seus habitantes originais e os portugueses tornam evidentes as diferenças entre as expectativas desses povos ao se conhecerem.

• É importante ter contato com esse registro histórico que anuncia a tensão latente entre povos indígenas e os europeus, cujos desdobramentos coloniais permanecem atuais. Na época em que Vaz de Caminha escreveu a carta ao rei Manuel, não havia normas gramaticais unificadas; esse fato, unido à linguagem típica do século 17, torna o texto original difícil de ser compreendido.

• É um documento histórico-literário que remete ao olhar de um europeu sobre terras e gentes que, ao longo do tempo, foram apresentadas como sendo a origem do Brasil.

• Problematiza noções como “descoberta”, a visão sobre os povos originários e sobre a flora e a fauna encontradas neste território.

• Ele esmera-se em descrever os povos que encontra. São descrições visuais de homens e mulheres, das ornamentações corporais, e também dos artefatos que ali encontrou, verdadeiros quadros em movimento, pintados por sua expressão narrativa.

• A carta tem uma estrutura interessante porque é composta por trechos do diário de bordo, sendo uma espécie de colagem de passagens do diária, seguindo cronologicamente¡,dia a dia, e contendo também seções específicas do gênero carta, como a introdução e a petição final.

• Caminha sublinha os contatos entre os portugueses e os indígenas, a desigualdades das intenções e expectativas. Num determinado momento, afirma”são muito mais amigos nossos do que nós deles”. O mercantilismo capitalista europeu era totalmente estranho à cultura Tupi. Ainda não descreve a violência colonial que sucederia e que hoje parece mais que nunca presente nos constantes atentados contra as populações indígenas e nos muitos projetos de lei que visam minar direitos e promover a devastação, mas já a anuncia.

• A leitura da carta pode ser importante instrumento de reflexão sobre o nosso presente, as possibilidades de futuros discursos silenciados ou não entendidos, como a exuberante arte plumária, a oratória dos antigos tupis, e a pintura e a ornamentação corporal.

• Relações: descontrole da mineração ilegal, devastação da Amazonia, constantes ataques armadas e povoações indígenas e recentes crimes contra meninas e mulheres indígenas.


Para ler a Carta de Vaz de Caminha:


Casa de Pensão - Aluísio Azevedo

Personagens:

Amâncio: Jovem preguiçoso e mulherengo, mimado pela família, rico;

Campos: Amigo do pai de Amâncio; acolhe o jovem em sua casa logo que chega à cidade. Porém, Amâncio abandona-a, pois está interessado em festas e noitadas, o que, na casa de Campos, era mal visto.

Hortênsia: mulher de Campos, interessa-se por Amâncio, mas os dois não se envolvem.

João Coqueiro: dono da pensão, quer que Amâncio se case com Amélia, a irmã, por causa do dinheiro do protagonista;

Amélia: irmã de João Coqueiro, jovem sedutora e que também tem interesse no dinheiro do jovem Amâncio.

Mme. Brizard: esposa de João Coqueiro, apóia o romance de Amélia com Amâncio, também por interesse.

Lúcia e Pereira: hóspedes da casa de pensão; Lúcia também é uma das pessoas que querem tomar o dinheiro de Amâncio e Pereira é seu marido; o casal vive de golpes e enganações.

Paiva e Simões: "amigos" de João Coqueiro que só se interessam pelo dinheiro de Amâncio.


RESUMO DA OBRA

Amancio chega ao Rio, do Maranhão, para estudar, e conhece Luís Campos, que o hospeda na sua casa, como um favor ao tio de Amâncio, que foi um mentor para Campos quando era jovem, e o fez ficar rico. Além disso, Luís é muito generoso e sempre convida pessoas para se hospedaram e comerem em sua casa.

Conta que Amâncio foi batido por seu pai em casa, e por seu mestre na escola. E isso lhe deixava com raiva, o que lhe fez ter raiva dos homens. Ele também aprendeu a esconder os sentimentos, e máscara-los, e se fechar para os outros, se reservando.

Diz que pegou sífilis da escrava que lhe alimentava, quando bebê, e por isso cresceu fraco, deformado e feio.

Também conta que quando jovem, 14 anos, saia escondido para namorar, fumar, beber, festejar... enquanto seus pais dormiam. Que isso lhe dava uma sensação de liberdade.

Gostava de ler, e poesias, e amava ler sobre a revolução francesa. Queria também fugir de seu pai, então foi pro RJ, pois diziam que era como Paris. Também, amancio buscava amor. A menina de 20 anos conta que a mãe não queria que partisse, enquanto o pai não parecia ligar.

Ele se matricula em medicina, com ajuda do Campos, e vê que é algo que detestava, mas continua, por medo. Amâncio se encantava pelo Direito, mas não tinha faculdade disso no Rio. Ele gostava de artes, mas isso não dava dinheiro. Então, continua na medicina, pois queria clarificar, que é sobre o título de doutor. Sobre a posição na sociedade, status, e dinheiro.

Mais tarde, Amancio encontra Paiva, um amigo do Maranhão que mora no Rio há 3 anos. Eles encontram uma menina pedindo esmola pra mãe que está supostamente morrendo em casa, mas Paiva diz ao protagonista que isso é história falsa para algum paspalho fazer dinheiro por meio de crianças.

Depois, Paiva apresenta Amâncio a João Coqueiro. Saem pra beber, e Amancio paga a conta, de 85 mil réis, porém, como quebraram copos, o criado se aproveita, e não dá a Amâncio o troca a sua nota de 100 mil réis. Em seguida, ainda paga o táxi que divide com Paiva, e ambos vão bêbados até a república onde morava (que ele descreve ser um lugar nojento, bagunçado e sujo, cheio de homens peludos e dividindo a cama).

Acorda bêbado e sai para casa de Campos, na saída, encontra uma menina de 16 anos e a beija à força, ela o repelindo. Isso o leva a memórias da infância, onde relembra que seu pai dormia com criadas, e ele também era bem levado e namoradeiro.

Depois reflete como não quer mais ficar na casa de Campos, pois sente que não tem liberdade, mas decide ficar pois está atraído pela esposa de Luís, Hortênsia. Ele tem desejo por ela, e sabe que é errado. Ele até reflete que seus pensamentos são errados em cartas, escrevendo poesia sobre isso.

Em seguida, recebe um convite para almoçar na casa de João Coqueiro, que aceita. Conta a história da família Coqueiro, que seus pais tiveram um casamento arranjado e seu pai era rígido, e queria que ele fosse homem. Lhe dava de beber e ensinava a atirar desde criança. A mãe era mais protetora. Depois, a família foi perdendo dinheiro, e com a morte do pai, tiveram que vender tudo para pagar suas dívidas, assim fazendo de sua casa uma casa de pensão. Com a morte de sua mãe, 2 meses depois, por pneumonia, tiveram que fechar a pensão, e ele e sua irmã se mudam para a casa de uma viúva, Madame Brizard, francesa amiga da falecida.

Um dia, desesperado pois não tinha dinheiro para continuar estudos, começou a chorar, a viúva, desejando o menino, propôs a ideia de casamento, pois ela poderia oferecer seu dinheiro. Eles reabrem a pensão e João continua a estudar.

Três anos se passam, e corta pra quando coqueiro conhece Amancio, e ouve que ele é filho único, herdeiro de grande fortuna, e planeja casá-lo com sua irmã, por isso o convite.

Amancio conhece Amélia, e durante o jantar, começa a ter desejos por ela e cair pelos encantos da moça. Coqueiro oferece a Amâncio para ele um lugar na casa, para ele pagar. Enquanto ele conhece o lugar, conhece Lúcia, moradora do apartamento 8, junto com seu marido. Os dois pareciam ter um casamento ruim, e sem harmonia. Enquanto isso, Amancio adora Lúcia, e no momento que a conhece, conversa bastante com ela, principalmente sobre poesia e literatura, que ambos são fãs.

Amácio passa o dia na casa. Observa e conversa com os moradores, que parecem meio loucos, ao seu ver. Ele não gostaria da ideia de morar na pensão, mas quando viu o horário, era bem tarde, então fica pela noite, pois a casa de Campos já devia estar fechada, e porque o coqueiro insistiu. Então, dorme na pensão.

Amancio gosta tanto da sua estadia e da liberdade que tem na pensão, e de conhecer mais os moradores, que decide se mudar para lá.

Quando anuncia a Campos, ele fica triste, porém entende. Hortência e Amâncio flertam, e ela o convida para acompanhá-la e o marido a um baile do Botafogo, e Amâncio aceita o convite.

Volta para pensão, onde desfaz as malas, e chora de saudades da mãe. Depois, fala com Madame Brizard e Amélia, e deixa implícito que não quer se casar com Amélia, pois a acha não digna dele. Mas a francesa tenta “empurrar” a garota pra ele.

Vai ao baile do Botafogo. Encontra e, após insistir, faz Hortência dançar, o que ela não costuma fazer. Eles se aproximam, e vão flertando mais. Ela o convida para almoçar na sua casa domingo. E eles vão flertando mais, e trocando cartas.

Já na pensão, Amâncio também se torna um alvo de Lúcia, que também começava a pensar em seduzir o rapaz, visto que o ele tinha dinheiro e ela não sentia absolutamente nada por seu marido, Pereira. Com a convivência na pensão, Amâncio acaba se tornando relapso nos estudos e sentindo-se culpado por isso. Mas Amâncio cai doente: bexiga (varíola). Os hóspedes ficam com medo e começam a deixar a pensão, mas Lúcia mostra-se amiga do convalescente, para desespero de João Coqueiro e da esposa, que vêem nela uma concorrente à fortuna. Pensando em se livrar de Lúcia, o casal cobra o dinheiro devido, mas ela consegue com Amâncio a quantia solicitada. Amâncio quer transar com Lúcia, mas ela diz que só o faria se ele a tirasse de seu marido e a assumisse. Apesar de saldar a conta, Lúcia e seu marido saem da casa, após ela alertar Amâncio sobre a possível exploração que João Coqueiro planejava.

Neste ínterim, também Amélia cuida de Amâncio, mas a pensão começa a perder seus hóspedes devido à doença de Amâncio, e este começa a sustentar a casa. E quando ele pensa em sair da casa, Amélia diz amá-lo. Em função de sua doença, Amâncio acaba indo para Santa Teresa, com a sua nova família, é claro. Lá, ele passa a ter uma vida de homem casado com Amélia, com a conivência de João Coqueiro, que fingia não ver o que se passava. Este sentimento aumenta quando Amâncio perde seu pai e herda sua parte da herança. Aproveitando-se na ocasião, Amélia pede uma casa a Amâncio, que reluta, mas cede. Por esta época, Amâncio é aprovado nos testes do primeiro ano da faculdade, e numa festa em comemoração do fato, ele tenta agarrar D. Hortênsia, mas esta recua.

Como Amâncio não havia ainda visitado a mãe, D. Ângela lhe escreve, pedindo uma visita, mas Amélia se impõe e não o deixa partir, dizendo que ela poderia ir junto, após o casamento. Amâncio recua, a vida de homem casado o oprime. Por esta época, Amâncio escreve uma carta se declarando a D. Hortênsia, mas Amélia a encontra e mostra ao seu irmão. Durante uma discussão sobre a viagem, Amâncio chama a família de filantes e pensa em partir sem comunicá-los. Entretanto, João Coqueiro já havia se preparado para isto.

Certo dia, quando Amâncio partiria para o Maranhão, já no cais, ele é detido pela polícia, acusado por João Coqueiro de ter violentado sua irmã. Com o fato, o Sr. Campos pensa em defendê-lo, mas desiste ao receber a carta que Amâncio escrevera para sua esposa.

Apesar das testemunhas falsas, Amâncio é absolvido do crime três meses depois. João Coqueiro, então, passa a ser chicoteado por estudantes, que o acusavam de exploração, de viver na casa de Amâncio. Seus colegas saem para comemorar.

Em meio a festa na cidade, João se sente tomado pelo ódio, pela inveja e por ter ficado como o vilão da história. Pega uma arma para se matar, mas num lapso de memória, aguarda o fim da festa para encontrar Amâncio só e vulnerável.

No fim, entra no quarto do hotel em que Amâncio dormia e atira-lhe no peito, que só teve tempo de abrir os olhos e dizer: “mamãe”...

Desesperado com a pressão de Madame Brizard e humilhado com a situação, João Coqueiro procura Amâncio num quarto de hotel e o mata. Ironicamente, aqueles que apoiavam Amâncio durante o processo, automaticamente passam a simpatizar com a ação de João Coqueiro.

O romance acaba com a chegada de D. Ângela ao Rio de Janeiro e a descoberta por parte desta da morte de seu filho.


• Obra Naturalista - aborda temas polêmicos como as injustiças sociais e os preconceitos de raças e classes; que ainda não eram muito falados na sociedade literária da época.

→O determinismo, em que as personagens são modificadas pelo ambiente em que vivem e pela herança genética (infância de Amâncio)

→A sexualização das personagens (badernas)

→A inclinação ao pensamento socialista em detrimento do pensamento burguês (as intenções burguesas de Amâncio)

→A crítica aos comportamentos e padrões tradicionais, que são mostrados como hipocrisia nas personagens (comportamento de Dona Hortência)

→riqueza de detalhes para descrever cenas, pessoas e lugares; visando garantir veracidade à narrativa. Assim, faz o leitor criar um paralelo reflexivo sobre o que lê na obra e o que vê no seu cotidiano.


Foco narrativo

O autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira pessoa do singular, um narrador onisciente. Isso permite que descreva detalhadamente não apenas os aspectos exteriores dos personagens, mas também os interiores, como pensamentos (a falsidade e dissimulação), sentimentos (positivos e negativos). Aqui, diferente da prosa Realista, não há um aprofundamento tão grande na psiquê dos personagens, vistos que são mais tipificados.

Espaço

Como em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na criação de personagens coletivos: a casa de pensão, tão comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem vida nas páginas do romance. Aluísio conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos quartos e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, nivelados pela mediocridade e em fácil decadência moral.

O autor faz alguns retratos com evidentes traços caricaturais, mas fiéis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as pessoas adquirem outros hábitos, formadas ou deformadas por essa vida comunitária tão promíscua.

Aí se encontram e se desencontram indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às vezes, apenas pelo número do quarto. Em O Cortiço, o meio social é mais baixo; na Casa de Pensão é médio.

Às doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, ódios, baixos interesses,) se misturam também a doenças físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão, a loucura e histerismo de Nini).

Foi o que encontrou Amâncio na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar, mas perde-se nesse ambiente.

Na verdade, o protagonista, de família abastada, não sente necessidade de uma profissão, mas apenas um diploma e um título de doutor, por vaidade e status.

O próprio Aluísio de Azevedo abandonou a Província para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e um título de doutor.

Tempo

Em nenhum momento a história nos relata um tempo preciso, porém pode-se presumir que se passe em 1876, data precisa do caso Capistrano. 


Para ler Casa de Pensão:


Clara dos Anjos, Lima Barreto

• Denuncia os problemas cotidianos do início do século XX: preconceitos raciais, sociais e de gênero.

• Expõe o papel feminino e os preconceitos que a mulher sofria naquela época, como a submissão, o abandono, a violência e o constrangimento público.

• Retratou a mulher num momento em que casar era necessário e feito como moeda de troca para ela, portanto, percebe-se que a sociedade patriarcal retratada oprime a mulher, definindo o lugar que ela deve ocupar na sociedade fluminense no início do século XX.


Clara é mulata, tem dezessete anos, é filha de Joaquim dos Anjos, carteiro, flautista e casado com Engrácia, dona de casa. Eles moram em um casebre simples e humilde, que possui dois quartos, sala de jantar e de visitas, cozinha, despensa e quintal, situada no subúrbio do Rio de Janeiro.

A família possui alguns vizinhos, dentre eles alguns estrangeiros, e frequenta a casa de poucos, como Antônio da Silva Marramaque, padrinho de Clara.

Em seu aniversário Clara conhece Cassi Jones de Azevedo, violeiro convidado para tocar na festa. Cassi Jones é branco, de uma classe social um pouco melhor, tem vinte e poucos anos e possui fama de sedutor, portanto, envia a Clara cartas de amor para que ela se apaixone por ele.

Clara é ingênua, frágil, sem grandes ambições, acredita na pureza do amor, por tudo isso, o plano do rapaz dá certo e ela se entrega a ele. O padrinho de Clara resolve interceder pela afilhada, mas é assassinado por Cassi e uns capangas.

Passa o tempo e descobre-se que a moça está grávida, então Cassi desaparece em fuga. Clara pensa em abortar, mas segue o conselho de sua mãe e vai à casa de Cassi esperando “reparação”, mas é maltratada pela mãe do rapaz, que a humilha por ser mulata e pobre. Então a moça se dá conta de sua posição na sociedade: mulher, pobre e negra.


Pré-Modernista: Ruptura com o academicismo e com o passado e a linguagem parnasiana; Linguagem coloquial, simples; Exposição da realidade social brasileira; Regionalismo e nacionalismo; Marginalidade das personagens: o sertanejo, o caipira, o mulato; Temas: fatos históricos, políticos, econômicos e sociais.


Foco narrativo: O romance é narrado em 3ª pessoa, onisciente. O narrador às vezes é intruso, intervindo na narrativa, confundindo-se em alguns momentos com a voz de Clara. Lima Barreto apropria-se de uma linguagem simples por meio da língua falada, empregando humor e ironia. 

Linguagem: Simples, clara, humorística e ousada, pois introduziu termos agressivos e explícitos para a época. Lima Barreto usa de termos modernos como "vagabundo", "imprestável", "mau caráter" e até mesmo "psicopata" para descrever seus personagens de forma clara.

Espaço: O espaço narrativo reflete as mudanças estruturais pelas quais passava o Rio de Janeiro da época. Observando não só o espaço físico, mas também as perspectivas sociais, culturais, étnicas, percebe-se como estruturam, unem, também separam pessoas, grupos e comunidades, transformando e fragmentando os espaços fronteiriços, embora essas muralhas estejam, muitas vezes, sutis ou cobertas por ações hipócritas e cruéis.

Barreto aborda na obra as modificações da sociedade no período dada Nova República, fazendo com que o leitor reflita através da protagonista os costumes enraizados da sociedade brasileira.

A trama atravessa períodos importantes da história do Brasil como a Guerra do Paraguai, a queda da monarquia e proclamação da republica, a eleição e renuncia de Deodoro da Fonseca e o período Florianista.


Para ler Clara dos Anjos:


Estrela da Vida Inteira, Manuel Bandeira

• Obra modernista de 1965.

• Poesia de Bandeira não tinha nenhuma pretensão ideológica específica, seu compromisso era sobretudo com a arte e com a literatura.

• Manuel fez de confidência, da ironia e dos versos livres as matérias-primas de seus versos. O livro engloba toda a obra poética do autor.

• Constituídos a partir da perspectiva de experiência e sentido da vida. É possível encontrar humor, solidão, tristeza, ironia, indignação, idealização e descrença nos poemas de Bandeira.

• Manuel Bandeira, junto com Oswald e Mário de Andrade, foi responsável por divulgar e por solidificar as ideias modernistas em todo o país.

• Embora atento às inovações artísticas que ocorriam àquela época na europa, das quais tomou de empréstimo o verso livre (umas das principais características de seus poemas), Bandeira era, da tríade modernista, o menos radical.

• Aderiu gradativamente às técnicas modernistas, enquanto nutria grande admiração por certos escritores do passado, como Camões e Gonçalves Dias.

• Sua obra abrange desde o parnasianismo e simbolismo (poesia de estrutura fixa, decassílabos e tom pessimista) à liberdade modernista (elementos nacionalistas e regionalistas em tom irônico). Já em suas últimas poesias, Bandeira retoma os versos regulares, como é possível identificar em A Estrela da Tarde, 1963.

• Com poesias extraídas a partir de temas simples cotidianos, até considerados banais, a coleção “Estrela da Vida Inteira" resulta em uma obra composta de linguagem coloquial, irreverente, com liberdade criadora e versos livres.

• A crítica ao português culto e aos temas mais comuns do romantismo foram tratados em tom irônico, de forma simples e, ao mesmo tempo, bem humoradas.

• Apesar da linguagem fora dos padrões tradicionais, “Estrela da Vida Inteira” possui poesias ricas em construção e significado, permanecendo atual.

• A cultura popular, a saudade e a infância também se fazem presentes. Diante da realidade, os poemas simbolizam o contraste entre o paraíso sonhado (Pasárgada), e o paraíso perdido (infância).

• A obra é composta pelos livros:

→Cinza das Horas: livro que segue a tradição simbolista e parnasiana, mas já caminhando para a ruptura com essas tradições.

→Carnaval: No carnaval, todas as fantasias são liberadas. Não há unidade e é neste livro que se encontra “Sapo” que satirizou o parnasianismo e foi hino dos modernistas.

→O Ritmo Dissoluto. Neste acentua-se na poesia a simplicidade popular e o prosaísmo

→Libertinagem: É o livro no qual se percebe o amadurecimento do poeta em relação à liberdade estética.

→Estrela da Manhã: Livro de poesias de um Bandeira com mais de 50 anos.


Para ler Estrela da Vida Inteira - Resumo:


I-Juca Pirama, Gonçalves Dias

As primeiras criaturas a serem apresentadas são os índios timbiras, conhecidos como guerreiros valentes. Anos atrás os índios timbira capturaram um prisioneiro de guerra tupi, o projeto dos timbiras era matá-lo. Ao final do terceiro canto, um dos índios timbira pediu que o prisioneiro se apresentasse e contasse um pouco da sua história de vida.

Ao longo do quarto canto ficamos conhecendo a história do índio tupi: as guerras que assistiu, os lugares por onde passou, a família que o rodeava. O pai, um velho cego e cansado, o acompanhava para todo lado. O filho era uma espécie de guia, que o conduzia sempre.

Apesar de ter um pai inteiramente dependente, para provar a sua honra, o índio tupi capturado se coloca à disposição da tribo timbira para servir como escravo.

O chefe da tribo timbira, ao ouvir o relato do prisioneiro, manda soltá-lo imediatamente afirmando que ele é um grande guerreiro. O tupi diz que parte, mas que, quando o pai estiver morto, irá regressar para servir.

O guerreiro finalmente encontra o pai moribundo e conta o que se passou. O velho decide regressar com o filho para a tribo timbira e agradece o chefe pela generosidade de o ter libertado, embora peça que o ritual seja cumprido e o filho seja castigado.

O chefe da tribo se recusa a seguir em frente e justifica que o cativo é um covarde, pois chorou diante dos inimigos e da morte. Como o plano era comer a carne do prisioneiro, o chefe temia que os seus índios se tornassem covardes assim como o tupi capturado.

O pai fica surpreso com a revelação feita pelo cacique porque os tupis não choram, menos ainda a frente dos outros, e amaldiçoam o filho.

Por fim, renega o próprio filho: "Tu, cobarde, meu filho não és.".

Para provar que é forte, corajoso, e para fazer valer a sua honra, o filho se volta, sozinho, contra a tribo timbira inteira. O pai percebe, pelo som da batalha, que o filho luta bravamente. O chefe da tribo, então, intervém e pede que o conflito se encerre. Pai e filho, por fim, se reconciliam.

1ª fase do Romantismo: natureza exaltada; índio como herói nacional


Para ler I-Juca Pirama, Gonçalves Dias:


Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto

• Retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão.

• A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassinado a mando de latifundiários.

• Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico.

• A morte não poupa ninguém, mas a persistência da vida é a única maneira de vencê-la.

• Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José, que fala do nascimento do filho. A renovação da vida é uma indicação ao nascimento de Jesus, também filho de carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.

• O poema choca pelo realismo demonstrado na universalidade da condição miserável do retirante, desbancando a identidade pessoal.


PERSONAGENS:

Severino -narrador e personagem principal, um retirante nordestino que foge para o litoral em busca de melhores condições de vida.

Seu José, mestre carpina- salva a vida de Severino, impedindo este de tomar sua própria vida.

Mulher na janela – moradora da região da seca que explica a Severino que todos os ofícios ali estão ligados à morte.

Severino, nessa obra, não é apenas um nome. No título, o nome próprio ganha função de adjetivo e traz uma qualidade para a morte e para a vida.

No decorrer do poema, Severino é o nome de todos os retirantes que buscam uma vida mais branda na capital. Também é aquele que não consegue alcançar esse objetivo e é abraçado pela morte no meio do caminho.

Severino lavrador, finado Severino, Severinos de Maria. Essa universalização do nome induz o leitor a compreender que todos são os mesmos trabalhadores em busca da mesma vida e rodeados pelas mesmas dificuldades.

O próprio herói aborda isso no começo do poema, ao se apresentar com “Somos muitos Severinos,/iguais em tudo na vida”.

A palavra severina também pode fazer alusão ao adjetivo “severa”, ou seja, rígida, dura, exigente.


CONTEXTO:

Poeta, diplomata e engenheiro, João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife em 9 de janeiro de 1920. Sua obra permeia o regionalismo e trata de assuntos recorrentes na vida do nordestino da época.

Parte da famosa Geração de 45 da fase modernista, juntamente com autores como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto defendia uma poesia que valorizasse a forma literária e a arte da palavra, cada vez mais objetiva e autora de denúncias.

O poema dramático "Morte e Vida Severina" é a obra-prima do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Escrito entre 1954 e 1955, trata-se de um auto de Natal de temática regionalista.


Para ler Morte e Vida Severina:



Nove Noites, Bernardo Carvalho

• Conta a história do misterioso caso do suicídio de um antropólogo norte-americano em solo brasileiro, chamado Buell Quain. Quain teria se suicidado diante de índios de uma tribo localizada no Tocantins (Krahôs), em 1939.

• Bernardo desenterra esse fato e cria uma narrativa única em torno disso, misturando ficção com aspectos reais. O autor projeta em seu texto fotos e personagens da década de 30, retratando pessoas reais e imaginárias, localizadas em espaços geográficos delimitados.

• Também registra histórias mais ou menos documentadas, numa visão parcial do escritor. O autor deixa evidente o caráter fictício de sua narrativa, nos “agradecimentos”.

• A narração é feita a partir de dois narradores com diferentes pontos de vista. O primeiro é Manoel Perna, um engenheiro local. A visão de Perna é importante para a história porque teve proximidade com Quain: uma relação de amizade e amorosa casual que resultou em importantes confidências.

• O 2º narrador é um jornalista que investiga extra-oficialmente o caso, no intuito de escrever um livro. Sua identidade não é revelada e alguns interpretam como o próprio Bernardo, embora não seja oficial.

• Os personagens estão sempre em trânsito, ora em solo americano (NYC, onde Quain nasceu), ora em solo brasileiro (RJ, SP, Maranhão, Tocantins...), ora num interior mais profundo do país (a aldeia Krahô, pertencente à cidade de Carolina).

• É interessante notar que os personagens circulam não apenas pelos ambientes físicos, mas sobretudo nos espaços de suas memórias. É justamente esse intercalar de fatos com memória que garante dinamicidade e suspense ao livro, podendo causar confusão a quem não se atentar

• O leitor nunca sabe exatamente onde pisa, é guiado por entrevistas com os que viveram com Quain, arquivos públicos e memórias deixadas em cartas escritas pelo suicida e por um seu amigo, com quem partilhou 9 noites de revelações. São vários mistérios que se interligam.

• Um campo de especulações e fatos se misturam mas não se busca apenas motivos para essa morte, mas também o porquê de um jovem americano querer se mudar para o interior de uma tribo sem convívio com outros seres humanos e de comportamentos até agressivos se comparados ao ideal de índio vítima.

• Quain teria retalhado o próprio corpo e se enforcado diante de dois índios Krahô que o acompanhavam numa caminhada nas matas. Ocorrida em circunstâncias misteriosas, sua morte até hoje intriga a todos que dela tomam conhecimento.


Para ler Nove Noites:


O Uraguai - Basílio Da Gama

• Assunto histórico é a expedição luso-espanhola, chefiada por Gomes Freire de Andrade, contra as missões jesuíticas no Rio Grande do Sul, em 1756, com o objetivo de assegurar as normas impostas pelo Tratado de Madri: as missões dos Sete Povos do Uraguai passariam para os domínios portugueses na América e a Colônia de Sacramento para a Espanha. •heróis: capitão Gomes Freire de Andrade, os índios Cepê, Cacambo, Tatu-Guaçu, a heroína Lindóia e o jesuíta, caricaturado, padre Balda.

• Épico,com cinco cantos e escrito sem divisão de estrofes. A bravura dos índios e os elogios à paisagem brasileira fazem de Gama um precursor do indianismo e nativismo que seriam desenvolvidos pelos escritores românticos.

• Por abordar um tema indígena e ter como cenário a floresta, alguns estudiosos consideram a obra de Basílio da Gama como precursora do indianismo romântico.

O Uraguai conta a história do comandante português (Gomes Freire Andrada) contra a tirania de um padre (Balda) que, além de matar Cacambo, deseja casar seu filho (Baldeta) com a índia Lindóia.

• Com o massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas, a culpa recai sobre os jesuítas, pois eles teriam instigado os nativos a não aceitarem as determinações do Tratado de Madri (o qual propunha uma troca de terras no sul do país entre espanhóis e portugueses) e se lançarem a uma luta desigual.

• Dividido em cinco cantos sem divisão em estrofes, escrito em versos decassílabos sem rima, o poema épico distancia-se da forma proposta por Camões, influência clássica do Arcadismo.


Personagens:

General Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas portuguesas); 

Catâneo (chefe das tropas espanholas); 

Cacambo (chefe indígena);

Cepé (guerreiro índio); 

Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões);

Caitutu (guerreiro indígena; irmão de Lindóia); 

Lindóia (esposa de Cacambo); 

Tanajura (indígena feiticeira).


Resumo da narrativa

Basílio da Gama substitui o modelo camoniano de dez cantos por um poema épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos decassílabos brancos, ou seja, sem rimas.

Canto I: Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. Chegada de Catâneo. Desfile das tropas. Andrade explica as razões da guerra. A primeira entrada dos portugueses enquanto esperam reforço espanhol. O poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade.

Canto II: Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros. É relatado o encontro entre os caciques Cepé e Cacambo e o comandante português, Gomes Freire de Andrade, à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.

Canto III: O General acampa às margens de um rio. Do outro lado, Cacambo descansa e sonha com o espírito de Cepé. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindóia. A mando de Balda, prendem Cacambo e matam-no envenenado. Balda é o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas. Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia vê a morte do amado, o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas. 

Canto IV: Balda pretende entregar Lindóia e o comando dos indígenas a Baldeta, seu filho. O episódio mais importante: a morte de Lindóia. Ela, para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente. Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo. Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a aldeia.

Canto V: Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se. Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrade que respeita e protege os índios sobreviventes.


Para ler O Uraguai:


Relato de um certo oriente, Milton Hatoum

• Ambientado em Manaus, traz o primeiro registro de questões centrais de seus romances, como as relações entre memória e coletividade e a construção da identidade do imigrante.

• Narra a história e os conflitos dos membros de uma família de imigrantes libaneses, centrada na figura da matriarca Emilie. Sua morte motiva a filha adotiva a voltar a Manaus, depois de anos distante, para registrar os depoimentos de pessoas cujo parentesco ou intimidade funcionam como índices inserção social.

• A memória volta-se para dois acontecimentos:

1- A morte prematura de Emir (irmão de Emilie), por suicídio. O fato remete as testemunhas ao passado e à sucessão migratória. Elas relatam as origens da família e os acontecimentos que antecedem a vida no Brasil.

2- A morte da neta surda-muda de Emilie, Soraya, filha bastarda de Samara e razão de um cisma familiar. Com base nesse cisma, delineiam-se as tensões morais e religiosas do clã

• O núcleo familiar é formado pela católica Emilie, o marido muçulmano e seus 4 filhos: Hakim, Samara e os 2 “inomináveis”, cujos modos indicam a intolerância, a hipocrisia e a amoralidade no seio familiar. Em torno deles, estabelece-se a comunidade heterogênea, composta por pessoas da terra, como a amiga Hindié e a empregada Anastácia, e estrangeiros, como o fotógrafo alemão Dorner.

• A apresentação dos acontecimentos ocorre em forma de diálogo. Neles, a narradora – filha adotiva de Emilie – entra em contato com outros narradores, como Hakim e Hindié, ou dá voz a outras personagens, como Dorner e, por meio deste, ao marido de Emilie.

• A narrativa organizada por ela cobre praticamente um século. Seu posicionamento é anunciado no início e no fim do romance (conferindo-lhe caráter circular), a pedido do irmão, também adotado por Emilie e residente em Barcelona.

• Durante esse período, pode-se acompanhar a chegada dos fundadores da família a Manaus no final do primeiro ciclo da borracha e a belle époque da cidade. Esta, remonta à loja de artigos finos A Parisiense, fonte de sustento da família e à formação e consolidação da Cidade Flutuante.

• Finalmente, chega-se à “praia de imundícies”, tempo presente da narrativa (fim dos anos80), que apresenta uma cidade empobrecida na qual os antigos protagonistas nem se reconhecem

• O desenvolvimento da narrativa implica mais do que a ampliação do horizonte histórico e social do romance. Identificando-se com as perspectivas dos personagens da história, a narrativa mescla-se a um tecido social em que se articulam testemunhos e identidade de cada envolvido. O relatório, tal como concebido pela narradora anônima, torna-se trama em que a memória – espaço da construção de si – surpreende-se com fantasmagorias. Nelas, explora-se o conflito temporal e geográfico. O deslocamento e o choque cultural que marcam as personagens somam-se à fatalidade do passado perdido. Isso ocorre pela consciência da discrepância entre público e privado, inerente à narrativa de Hakim, ou pelo total estranhamento ante a vida, como é o caso de Dorner. Além disso, a autora do relato passa pelo trabalho de invenção de si mesma a que se submetem os imigrantes no esforço de (re)construção de laços afetivos na cidade. Exemplos disso são a expansividade de Emilie, que promove a ascensão de sua empregada Anastácia Socorro à condição de agregada, e, no polo oposto, o fechamento do pai muçulmano na loja familiar.

• A relatora é internada pela mãe biológica numa casa de repouso em SP, cidade em que vive, após uma crise nervosa. É flagrada vagando no casarão comandado pela matriarca, buscando sentido no mosaico resultante de seu esforço de edição de notas e gravações. •Hatoum produz em Relato uma narrativa comprometida com um espaço e um modo de vida, associados à construção subjetiva e social das personagens. Pelas vozes que se enredam e lançam luzes umas sobre as outras, Hatoum recupera a ação individual e seu lugar numa coletividade da qual a construção narrativa é a grande metáfora.

• A protagonista, adotada por uma família de descendentes libaneses, recebe uma carta do irmão de Barcelona, pedindo que, quando ela fosse a Manaus, registrasse o que fosse possível. Ao voltar a Manaus, para rever sua mãe adotiva, a beira da morte, a protagonista leva consigo um diário, cartas, um gravador e fitas.


Narrador: há uma polifonia (diversas vozes). Ao longo dos 8 capítulos, há mudança de narradores.

1- Narradora central (protagonista, não nomeada).

2- Hakim: irmão da narradora.

3- Dorner: fotógrafo e amigo da família.

4- Marido de Emilie (não nomeado) através de Dorner.

5- Dorner e Hakim

6- Protagonista

7- Hindié Conceição: amiga de Emilie.

8- Protagonista


• A memória volta-se para 2 acontecimentos:

1- Morte prematura de Emir (irmão de Emilie), por suicidio. O fato remete a testemunhas do passado e à sucessão migratória. Elas relatam as origens da família e os acontecimentos que antecedem a vida no Brasil.

2- Morte da neta surda-muda de Emilie, Soraya Ângela, filha bastarda de Samara Délia e razão das disputas familiares.


Espaço

A trama se passa numa cidade marcada pelo hibridismo cultural e atravessada pelas idéias de fronteira e trânsito: Manaus, uma capital que se separa da floresta pelas águas fluviais e se situa num estado que faz divisa com três outros países. Ela também é a cidade natal do escritor. No livro também estão presentes a diversidade de costumes, línguas, e a convivência entre indivíduos de diferentes nacionalidades.

As histórias falam das possibilidades e das dificuldades do trabalho com a memória, das tensões e da convivência de culturas, religiões, línguas, lugares, sentimentos e sentidos diferentes das personagens em relação ao mundo. A casa de Emilie, matriarca da família na narrativa do Relato, é um microcosmo onde estas tensões aparecem e são vividas cotidianamente.

O que mantém a tensão no romance é a narrativa centrada em incidentes – o atropelamento de Soraya Ângela, o afogamento de Emir.


Para ler Relato de um Certo Oriente:


Sagarana, Guimarães Rosa

• Compêndio de nove contos longos, a obra é toda situada no sertão mineiro, em esmiuçadas descrições de suas paisagens, revelando o vasto conhecimento que o autor tinha da região.

• Não se trata de uma obra regionalista. Ainda que o regional tenha papel central em sua obra, as situações e personagens desenvolvidas por Rosa vão do particular ao universal: versam sobre as relações sociais, sobre o popular e o erudito, sobre o fantástico e o mágico, sobre as raízes da sociedade brasileira.

• Jogo com a linguagem, buscando romper com o automatismo da língua

• A dimensão lendária e mítica das sagas mostra-se, nas histórias, na presença constante da superstição, da sabedoria popular e proverbial, da ambientação fantástica e mágica.

• Mitos indígenas e africanos convivem com crendices populares, em que são apresentadas as aparentes “desrazões” do homem simples do sertão ao leitor como temática

• Contos envolvem questões sertanejas, da fome, cangançeiros, vingança, violência - contra a mulher também-, de um Brasil “de dentro”, desconhecido das instituições e das leis por escrito. • As relações entre as personagens estabelecem-se com base na regra e no costume, que convivem com o mítico, fantástico, mágico, com a sabedoria popular e proverbial.


Regionalismo e universalidade

O regionalismo, relacionado a características locais do sertão mineiro (dados geográficos e culturais) é responsável pela identidade dos personagens. Guimarães Rosa cria a sua ficção a partir de figuras humanas. Daquilo que poderia ser apenas de interesse local e de entendimento restrito àqueles que vivem em território brasileiro, o autor consegue abranger temas universais.

A universalidade reside naquilo que vai além do local/particular, algo que pode ser entendido em outras nações e em outros tempos. Esse é o caso da luta entre bem e mal no personagem Augusto Matraga do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”. O bem e o mal são temáticas universais, assim como o conflito gerado por essas duas potências, pois, em qualquer parte do globo, e ainda por muito tempo, a humanidade experimentará tal embate.


Linguagem

O caráter coloquial que permeia a fala de seus personagens dá um tom lírico na recriação da vida do sertanejo. Esse trabalho com a linguagem traz à tona a capacidade imaginativa e criativa do povo do sertão, senhor da própria língua, que transforma a linguagem coloquial em elemento lírico-identitário.

Contudo, ao lado do lirismo, está a violência, elemento regional e universal. É o resgate do primitivismo, o animalesco que brota em meio às condições duras de vida de personagens que buscam sobreviver. Em um universo patriarcal, dominar o espaço e as pessoas, por meio da força bruta, é o que impulsiona alguns personagens, machos humanos que não entendem o poder separado da violência.


Para ler Sagarana:

Últimos Cantos, Gonçalves Dias

• Gênero Lírico –Romantismo- 1851

• “Depois de escrita a revista, chegou a notícia da morte de Gonçalves Dias, o grande poeta dos Cantos e dos Timbiras. A poesia nacional cobre-se, portanto, de luto. Era Gonçalves Dias o seu mais prezado filho, aquele que de mais louçania a cobriu. Morreu no mar-túmulo imenso para talento. Só me resta espaço para aplaudir a ideia que se vai realizar na capital do ilustre poeta. Não é um monumento para Maranhão, é um monumento para o Brasil. A nação inteira deve concorrer para ele.”

Machado de Assis (Crônicas em Diário do Rio de Janeiro, de 9 de novembro de 1894.)

• O depoimento de Machado de Assis sobre a morte de Gonçalves Dias por si só já deixa clara a posição do poeta na história da nossa literatura.

• Pertencente à primeira geração romântica, também conhecida como nacionalista-indianista, Dias resgata a passado brasileiro, através da figura do índio, imprimindo uma identidade aos habitantes e aos artistas daqui ; ao mesmo tempo, enaltece a natureza brasileira e reforça a ideia de nação em um país que começava a enxergar a si mesmo. Obviamente, é uma visão idealizada, tanto do índio, quanto da natureza e da nação. Mas, naquele momento histórico, em que a Literatura começava a se afirmar e a se distanciar dos padrões europeus, Gonçalves Dias cumpre sua função e ainda nos deixa uma obra diversificada e original.

• No livro Últimos cantos, terceira coletânea de poemas, o autor repete a distribuição dos poemas em grupos, adotada nos Primeiros Cantos: Poesias americanas, Poesias diversas e Hinos.

• Em Poesias Americanas, encontramos, entre outros poemas indianistas, I-Juca Pirama, poema composto por 484 versos protagonizados pelos índios tupis e timbiras.

• Pode-se ler ainda: Leito de folhas verdes, I-Juca-Pirama, Marabá e Canção do Tamoio. O trecho abaixo é uma análise de Antônio Cândido sobre Poesias Americanas: “Apesar de alguns poemas bons de outro tipo, como a singela “Canção do exílio” e uns poucos entre os que chamou “Hinos”, foi portanto no tema indianista que produziu os melhores versos, como “Marabá”, “O canto do Piaga”, “O leito de folhas verdes” e sobretudo “I-Juca Pirama”. Este é um poemeto heróico sobre o prisioneiro de uma tribo inimiga que, contrariando o heroísmo inflexível do índio convencional, se humilha para ter a vida salva, a fim de poder continuar guiando o pai cego. Mas este o maldiz por isso, e I-Juca Pirama acaba lutando com extrema valentia para tornar-se digno do sacrifício ritual. O movimento do poema é expresso pela variação de metros e ritmos em diferentes combinações estróficas, tudo admiravelmente adequado à modulação das emoções. Já em “O leito de folhas verdes” o assunto é um encontro amoroso frustado, em que a mulher lamenta a ausência do homem num monólogo cuja densidade aumenta pela representação da fuga do tempo, graças a recursos de métrica e linguagem que bem mostram a força de Gonçalves Dias nos bons momentos. Embora integrado no espírito romântico, ele guardou certo compasso neoclássico, que soube combinar de maneira pessoal à musicalidade conquistada pelo seu tempo.”

• Em Poesias Diversas, foram agrupados poemas que, apesar de terem diferentes temáticas, possuem um ponto em comum. Muitas delas poderiam ser enquadradas na segunda geração romântica, por trazerem à tona a morte de pessoas amadas e a tristeza, a percepção da passagem do tempo, a angústia e a desilusão com a vida. Entretanto, a lírica de Gonçalves Dias é solta, musical e original, fazendo com que as poesias não tenham o mesmo peso e exagero que as do ultrarromantismo.

• Em Hinos, a menor parte da obra, encontra-se “A Tempestade”, poesia que representa a força das naturezas, utilizando de forma criativa recursos estilísticos, como a métrica, o ritmo e a sonoridade. A descrição visual neste poema é quase cinematográfica.

• A excelência da forma e da temática fazem com que o livro seja reconhecido como a obra prima do autor.


Para ler Últimos Cantos de Gonçalves Dias:




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